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Brasil deve continuar a registrar deflação nos próximos meses

Apesar da retração no valor da gasolina, o aumento nos preços de bens industriais gera preocupação

O debate em torno da deflação tem se aquecido nas últimas semanas. O assunto entrou em pauta pela rapidez com que os preços de bens e serviços estão diminuindo em todo o Brasil. Segundo os especialistas, o movimento deve se manter firme nos próximos meses. O arrefecimento dos preços costuma ser uma tendência a favor da economia, mas pode provocar uma breve crise financeira no País.


“Esse efeito (deflação) tem explicação única e exclusivamente relacionada à redução dos repasses de impostos e ao corte de preços. Estamos acompanhando reduções na precificação da gasolina, do diesel e da energia elétrica”, aponta o economista e professor do UniAcademia, em Juiz de Fora, Guilherme Ventura.


Pesquisa realizada pela agência Autoinforme identificou que andar de carro ficou 1,32% mais barato em agosto quando comparado a julho deste ano. Esse exemplo se concretiza com as sucessivas quedas nos preços dos combustíveis. O mesmo estudo apurou que o preço da gasolina diminuiu 11% em agosto frente a julho.


Em menos de 50 dias, a gasolina teve quatro reduções em seu valor. A última aconteceu no dia 2 de setembro, com a gasolina ficando R$ 0,78 mais barata nas refinarias, de acordo com dados divulgados pela Petrobras.


“Lembrando que esse rebaixamento é a nível mundial e não algo exclusivo do Brasil. Mas, muito mais do que isso, essa deflação tem colaborado porque teve uma pesada jogada com foco na diminuição do ICMS”, é o que avalia o analista econômico e professor da Faculdade Arnaldo Janssen, em Belo Horizonte, Alexandre Miserani.


“Essa deflação vem contribuindo muito pela alta injeção de dinheiro na economia. Seja por meio do auxílio-gás, do vale-táxi ou do auxílio para os motoristas de caminhões. Inclusive, tivemos aí o programa Auxílio Brasil ajudando a injetar dinheiro e fazendo o dinheiro circular”, enfatiza Miserani.


Cadeia produtiva

Professora de economia da Una, em Belo Horizonte, Valníria Ferrari enfatiza que as reduções no preço do combustível têm reflexos também em toda a cadeia produtiva. “Com a deflação, há também uma redução de preços no setor de alimentos, nos setores de serviços, inclusive no próprio setor industrial. Paralelamente a isso, a gente também teve um movimento internacional com a redução de demanda. Essa deflação provavelmente vai continuar, mas desacelerando um pouco”, conta a docente.


“Quando a gente pega os dados de agosto, por exemplo, vemos essas reduções do combustível. Por outro lado, percebe-se, em primeiro momento, um aumento no preço dos bens industriais, principalmente dos itens de higiene pessoal e do setor de vestuário. Eles apresentam um aumento relevante nos preços”, acrescenta Guilherme Ventura.


Ilustrando este cenário, o número de itens que compõem o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) que ficaram mais caro, somente em agosto deste ano, aumentou de 62% para 65%. “Isso significa que, dos 377 itens ou dos 477 subitens que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) pesquisa, 65% deles apresentaram um aumento no nível médio de preços”, justifica Ventura.


“Esse fato revela mais uma vez o quão generalizado esse processo inflacionário se encontra. Claro que a percepção hoje é de que a inflação encerre o ano em um patamar menor do que esperávamos anteriormente. Mas, se observarmos isso, ocorre única e exclusivamente por conta desse efeito da limitação que a gente tem do ICMS, que afeta o preço dos combustíveis, das telecomunicações e da energia elétrica”, aponta o docente do UniAcademia.


A expectativa dos especialistas é de que o Banco Central não conseguirá entregar mais uma vez o IPCA dentro da meta. Atualmente, a meta estipulada pela entidade é de 3,5% e o teto de 5%.


Impactos

Eduardo Luiz, CEO da Epar, player que opera soluções em gestão financeira, classifica que os combustíveis têm o seu impacto significativo, mas que acaba não sendo representativo. Ele também reafirma que, para os próximos meses, o País terá uma inflação que vai tender a zero ou próximo de zero, sendo um fruto da desoneração fiscal.


“Hoje, como entidade e órgão, o Banco Central recebe uma autonomia que não está atrelada às vontades políticas de nenhum governo, seja ele A ou B, pois ele reporta uma inflação de menor escala. Mas, no final das contas, quem vai ter a razão? O mercado ou o Banco Central? Eu acredito muito que este cenário está atrelado ao que pode acontecer em relação às políticas que devem ser tomadas. Ora com a força do resultado em relação às eleições, assim como das mudanças ou adequações em relação aos movimentos tributários e administrativos que o governo precisa adotar frente à sociedade”, diz Eduardo Luiz.


Ao mesmo tempo em que a deflação pode favorecer a baixa de preços, ela apresenta um desafio à economia. Alexandre Miserani pontua: “Na prática, efetivamente não estamos incrementando a produção para que possa fazer aquele ciclo econômico ganhar força. Não é um incremento que está aumentando a produção, aumentando a empregabilidade, ou garantindo maior geração de salários na economia”.


Eduardo chama a atenção para uma realidade de deflação reflexo de acontecimentos pontuais. “É importante reportar que tudo isso vem de uma guerra, de uma recessão global onde existe um risco iminente, quer seja na Europa ou nos Estados Unidos. O Brasil, por ter feito o dever de casa através do seu Banco Central, creio que o País vai colher bons frutos para o ano que vem. Então, tenho uma visão mais otimista em relação à desoneração fiscal.


Se tivermos uma desoneração continuada, vejo um horizonte positivo. Agora se ela for descontinuada, muito voltada para uma deliberação, vejo um risco iminente de termos inflação no ano que vem”, conclui o especialista.


FONTE: diariodocomercio.com.br

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