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Como proteger trabalhadores de aplicativos?


Como pode o Brasil se livrar desses três graves problemas? É a pergunta que mais recebo de estudantes e jornalistas. Infelizmente, não existe uma bala de prata. O emprego de hoje reflete o investimento de ontem. E, nos dias atuais, o Brasil investe apenas 15% do PIB, o que é irrisório para atender às necessidades de trabalho.

Mas, mesmo na retomada dos investimentos, especula-se sobre o impacto das tecnologias poupadoras de mão de obra. Sabe-se que elas destroem e criam empregos. Entretanto, as novas vagas só podem ser aproveitadas por trabalhadores que têm a qualificação exigida por elas.

Esse ajuste não é trivial. O Brasil tem poucos empregos e trabalhadores de alta qualidade. A maioria dos atuais postos de trabalho está em setores que requerem uma qualificação limitada: commodities, comércio e serviços simples, transporte e, marginalmente, indústria. Bem diferente é a matriz econômica da Alemanha, por exemplo, que exporta 50% do PIB em bens e serviços de alta tecnologia. Ou seja, exporta ideias, pesquisa e ciência que, em última análise, estão na cabeça dos trabalhadores.

No Brasil, 18,5% dos trabalhadores fazem tarefas simples do pequeno comércio e serviços; 9,4% fazem o mesmo na agricultura; assim é também com 6,5% que são a metade da mão de obra industrial; com 6,4% na construção civil; 5,9% nos serviços domésticos; 5,3% no transporte; 5,1% nos bares, hotéis e restaurantes; e 5,6% nos chamados outros serviços, que incluem manejo de animais, apoio florestal, manutenção de esgotos, escoamento de resíduos, sapateiros, relojoeiros, chaveiros, bicicleteiros e outras atividades que demandam qualificação limitada. Tanto que 3,2% dos nossos trabalhadores são analfabetos; 22,8% têm o fundamental incompleto; 8,4%, o fundamental completo; 7,4%, o médio incompleto; 33,4%, o médio completo; 6,3%, superior incompleto; e 18,5%, o superior completo. Tudo isso sem falar na qualidade do ensino. Apenas 8% completam cursos técnicos em escolas de formação profissional.

A Alemanha, para produzir bens e serviços em química, farmácia, máquinas, automóveis, aviões, energia limpa e outras atividades complexas, tem 44% de técnicos (formados pelo eficiente sistema dual que combina escolas e empresas) e 32% de diplomados em universidades, especialmente em engenharia e ciências. As atividades mais simples do comércio e dos serviços são realizadas, na maior parte, por imigrantes de baixa qualificação.

Mas a modernização tecnológica também avança no Brasil. Por isso, é imperioso implantarmos uma estratégia paralela de qualificação das pessoas. A China tem sido campeã nessa sincronia. Ao longo dos últimos 20 anos, intensificou o conteúdo tecnológico da sua economia e, ao mesmo tempo, qualificou o seu pessoal.

No ano 2000, a China formou 46 milhões de jovens nas universidades; em 2020, foram 218 milhões! O mesmo se deu no ensino médio e técnico.

A Unctad recomenda que os países demasiadamente dependentes de commodities aproveitem as oportunidades que estão se abrindo e reduzam a lacuna tecnológica que neles impera. Está aí a necessidade de encetarmos uma gigantesca cruzada educacional de 15-20 anos para o Brasil dar um salto e acompanhar a eventual evolução da sua matriz econômica. Só assim poderemos atenuar o desemprego, o desalento e a informalidade de modo expressivo.

É imperioso olhar o longo prazo, acabar com as brigas políticas, reequilibrar as finanças públicas e ter uma liderança firme nos campos da tecnologia e da educação.

José Pastore é Presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da FecomercioSP. Artigo originalmente publicado no jornal O Estado de S.Paulo em 26 de agosto de 2021.

Fonte: FecomercioSP Arte: tutu

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