A taxa básica de juros está neste patamar desde agosto de 2022. Para analistas, pressão inflacionária e incertezas internas e externas impõem cautela às decisões do Copom
O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa básica de juros, a Selic, em 13,75% ao ano. A taxa permanece neste patamar desde agosto de 2022 e, segundo analistas, não deve variar nos próximos meses, salvo alguma mudança mais brusca no cenário econômico.
Para Ulisses Ruiz de Gamboa, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), a manutenção da Selic levou em consideração o novo aumento dos juros no mercado norte-americano em 0,25 pontos percentuais. “Isso tende a elevar a cotação do dólar no Brasil, gerando pressão adicional nos preços internos”, explica Ruiz de Gamboa.
Ainda de acordo com o economista da ACSP, a proposta do novo arcabouço fiscal foi vista pelo mercado como positiva, mas sua existência e definição final dependem do Congresso.
“A proposta por si só ainda não foi capaz de reduzir as expectativas de inflação, que permanecem desancoradas, dificultando a diminuição da taxa Selic, o que permitiria maior geração de empregos e de atividade econômica”, complementa o economista.
Para Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, o comunicado do Copom reforçou que não há relação mecânica entre a convergência da inflação e a aprovação do arcabouço fiscal. “Isso sinaliza que se o arcabouço for aprovado, não vamos ver, necessariamente, uma revisão nas expectativas de inflação que possam sugerir alguma cautela do mercado em relação à política monetária.”
Mas Camila pondera que o arcabouço fiscal pesa no balanço de riscos “porque o mercado considera que o texto pode ter alterações no Congresso, impactando na trajetória da Dívida Pública e, eventualmente, na inflação.”
A economista considerou o comunicado do Copom mais duro, especialmente por manter trecho de comunicados anteriores que apontam que o Comitê “não hesitará em retomar o processo de ajustes caso o processo de desinflação não ocorra como o esperado”.
A novidade neste comunicado é que o Comitê pondera que o cenário descrito acima “é o menos provável”.
Para Camila, os cortes de juros devem começar no segundo semestre, como consta do último Boletim Focus.
Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest, também considerou duro este último comunicado do Copom, mas que foi amenizado quando o Comitê diz “entender os impactos dos juros altos no crescimento econômico”.
Ainda assim, segundo Cristiane, não é esperada redução na Selic no próximo anúncio do Copom, previsto para meados de junho.
Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito (Acrefi), diz que a desaceleração das expectativas de inflação, especialmente para 2024, pode gerar surpresas positivas no anúncio de junho. “Mas o mais provável para o mercado é que a baixa dos juros acontece em agosto ou setembro”, diz o economista.
A Selic continua no maior nível desde janeiro de 2017, quando também estava em 13,75% ao ano. Antes do início do ciclo de alta, a Selic tinha sido reduzida para 2% ao ano, no nível mais baixo da série histórica, iniciada em 1986.
Por causa da contração econômica gerada pela pandemia de covid-19, o Banco Central tinha derrubado a taxa para estimular a produção e o consumo. A taxa ficou no menor patamar da história de agosto de 2020 a março de 2021.
FONTE: dcomercio.com.br
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