“A depender do tipo de aço, a diferença do nacional para o importado pode superar em 30%", explica Paulino Oliveira
A oferta interna elevada e o aumento das importações deverão impactar os preços do aço no mercado brasileiro. A tendência é que, ao longo do segundo semestre, haja uma queda nos preços. O crescimento chinês menor que o esperado também é um dos fatores que podem provocar redução na cotação.
De acordo com o especialista da Valor Investimentos, Gabriel Meira, por agora o preço do aço gira em torno de US$ 3,7 mil a US$ 3,8 mil a tonelada e a previsão em relação aos valores é que os mesmos se mantenham para baixo.
“A gente tem visto que a exportação de forma geral, apesar de o Brasil ser um dos maiores exportadores para o mundo, ainda tem sido bem abaixo de 2022. Temos ainda uma demanda muito mais devagar, principalmente, por conta da retomada da China, que não tem voltado ao mesmo patamar que o mercado esperava”.
Diante dos fatores, Meira acredita que os preços possam cair. “Possivelmente, o preço do aço deve cair um pouco mais para o ano. Não sei falar um patamar, porque vai depender muito da volta da China”.
Em relação às siderúrgicas, de forma geral, Meira ressalta que a recomendação é de compra aqui no Brasil.
“ A própria XP está com indicação de compra para siderúrgicas, principalmente, porque elas podem se valer também não só da questão do preço do aço, que vai ser global, mas principalmente por diversificação de receita e ainda ter um patamar de venda interno, que vai facilitar bastante. O portfólio da CSN, da Gerdau, por exemplo, consegue facilitar que a empresa continue gerando linha de receita mesmo com o preço do aço lá fora em baixa”.
Segundo Meira, avaliando as commodities em geral, que são bastante ligadas à China, se não houver uma retomada do crescimento do país asisático, os preços tendem a cair.
“Se a China não voltar a crescer tão rápido quanto se pensava ou no mesmo patamar, o mercado deve penalizar e vamos ver o preço das commodities lá embaixo, não só do aço, mas do minério de ferro e outras”.
O CEO e fundador da Belo Investment Research, Paulino Oliveira, explica que no cenário doméstico, o preço do produto siderúrgico, no ponto de vista de paridade com o preço internacional, está em um patamar bastante alto.
“A depender do tipo de aço, a diferença do nacional para o importado pode superar em 30%. Algumas questões que podem justificar esse custo mais alto no curto prazo estão mais relacionadas ao aumento do crescimento econômico maior do que a expectativa e o aço é um metal cíclico. Também tem a questão específica do incentivo que foi feito para a compra de automóveis populares. Mas, esse desequilíbrio, não consegue se manter por um período muito extenso”.
Entre os pontos que podem interferir na cotação do aço está a pressão de queda de preço do produto na China. “A queda do preço na China reduz um pouco esse diferencial. Mas, ainda assim, a expectativa é que você tenha alguma queda no curto prazo no preço do aço no mercado doméstico”.
Ainda segundo Paulino, o período atual, que é de início de corte das taxas de juros, tanto no Brasil quanto, em breve, no mundo desenvolvido, pode gerar um estímulo à atividade econômica que, portanto, vai gerar alguma pressão para o aumento da demanda do aço.
No longo prazo, as questões demográficas, como o déficit habitacional na China e na Índia, em algum momento, vai coincidir com o aumento da renda.
“Isso acontecendo, a demanda efetiva pelo aço vai aumentar, o que leva a uma tendência, de longo prazo, de alta do preço do aço. Mas, no curto prazo, tudo vai depender do ritmo de corte de juros e da resposta da economia a essas ações de política monetária, que na prática tem um prazo difícil de prever, algo em torno de seis meses é o normal, mas varia muito”.
O presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), Carlos Loureiro, também acredita que haverá redução dos preços no mercado interno.
“Hoje, a tendência de preços do aço é mais para queda do que para estabilização dos valores. Mas, ainda não temos movimentos oficiais das usinas. Observamos negócios feitos com alguns descontos para materiais de estoque ou algum lote”.
Ainda segundo Loureiro, essa tendência de queda da cotação deve se manter porque o prêmio continua muito alto – no laminado a quente varia entre 28% a 30% em relação ao mercado interno.
“Com um prêmio tão alto como esse, a importação está subindo de forma bem significativa em relação ao ano passado e essa compra externa vem persistindo. A informação que temos é do fechamento de novos lotes, que vão chegar daqui a cinco meses. Então, esse segundo semestre será, com certeza, de volumes mais altos”.
Ainda segundo Loureiro, nos últimos dias, houve um aumento pequeno nos preços internacionais de 2% a 3% frente um mês antes, porém, mesmo com o movimento, a tendência é de desvalorização interna devido a oferta elevada.
“O prêmio continua muito alto porque o dólar continua muito fraco, o que estimula as importações. Por isso, a gente não vê, a curto prazo, a possibilidade de haver um grande movimento de alta nos preços lá fora. Há expectativa de fortalecimento do dólar a curto prazo. Essa situação deve persistir”.
FONTE: diariodocomercio.com.br
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